O lago Tanganica, em África, é conhecido por ser o mais comprido do mundo, por ser um famoso hot-spot de biodiversidade e também um caso de estudo muito usado para processos evolutivas, ecológicos e comportamentais. O lago estende-se por quatro países, sendo a Zâmbia um deles, que coincide com a porção do extremo sudoeste deste corpo de água.
A área Zambiana do lago foi a área de estudo deste projeto: 2.000 km2 de extensão, uma linha de costa de 238 km e 83 aldeias piscatórias onde vivem 8.430 pescadores com 2.300 embarcações. A principal atividade económica destas populações é a pesca no lago, que dá sustento a 20.000 pessoas.
Embora a piscicultura de grande escala no lago tenha vindo a desenvolver-se muito nos últimos anos — sendo a Zâmbia atualmente o 6º maior produtor mundial de peixe de aquacultura e o maior produtor de tilápia na África austral — está atividade não é acessível à maior parte da população rural. Assim, o Governo decidiu lançar um programa de incentivo à piscicultura de pequena escala (familiar). Este tipo de aquacultura consiste na produção de peixes dentro de gaiolas flutuantes que são colocadas em corpos de água já existentes, requerendo pouca manutenção e investimento inicial muito baixo; tipicamente as gaiolas são mantidas por um agregado familiar e a sua produção destina-se, na totalidade, ao consumo próprio.
A fase 1 do programa do Governo inclui a instalação de 10 pequenas gaiolas-piloto para produção de tilápias e a formação de técnicos governamentais e de famílias interessadas no processo de produção, pós-processamento e venda (10 formandos por cada estação piloto). No futuro, uma fase 2 do programa deverá incluir o alargamento para 100 instalações de piscicultura de pequena escala.
A função da Nemus, neste projeto, foi identificar e avaliar os efeitos ambientais e socioeconómicos da aquacultura na área zambiana do lago, para assegurar que a futura concretização e extensão do programa segue as opções mais estratégicas e sustentáveis.
Para além do trabalho de campo de conhecimento e diagnóstico de toda a área, o projeto incluiu ainda um workshop para stakeholders em Mpulungu, a que se seguiram sessões de “focus groups” em diversas comunidades.
O projeto incluiu ainda uma análise de capacidade de carga multi-layer, feita pela Nemus, para apoiar o Governo na seleção dos melhores locais para a colocação das gaiolas. Para produzir o mapa final de adequabilidade em 5 classes, considerou-se: condicionantes ecológicas (áreas protegidas tais como Parques Nacionais e áreas de reprodução, áreas-chave para a biodiversidade, locais de maternidade para peixes, e o grau de relevância de cada área para a fauna selvagem), condicionantes físico-químicas (distância a focos de poluição terrestres e configuração da linha de costa), condicionantes operativos (profundidades adequadas para a colocação deste tipo de gaiolas).
A avaliação global feita confirmou que o programa terá uma relevância muito elevada para as comunidades desta área, porque irá contribuir positivamente para a redução da pobreza e para o aumento da qualidade alimentar; este método de produção é muito resiliente quanto aos riscos de sobre-exploração dos recursos do lago, os riscos de disseminação de algumas doenças (relacionadas com questões de higiene alimentar) e outros de grande escala, relacionados com as alterações climáticas, trazendo assim maior segurança socioeconómica às populações.
Este trabalho foi o primeiro da Nemus na Zâmbia e foi desenvolvido em parceria com a sua filial Moçambicana, Nemus Africa.